Mestre Tzen acha que minha idéia de uma comunidade global é muito utópica demais, até, porque, para ele, há diferentes estágios de conscientização, de civilidade, não só entre os diversos grupos humanos, mas também dentro deles e, por isso, nem todos compartilhariam de uma atávica noção de igualdade e respeito mútuo.
Ele cita o exemplo que presenciou na zona rural mineira: um trabalhador rural foi o primeiro de sua vizinhança a comprar uma moto. Quando um vizinho seu pede carona até a rodovia (para que, dali, possa pegar o ônibus, por exemplo), esse motoqueiro rural cobra pela viagem. Mas ele não cobra de seu vizinho por ser ganancioso; ao contrário, ele cobra porque senão esse mesmo vizinho – assim como os demais vizinhos – ficariam a lhe pedir, indefinidamente, carona até a estrada e ele não teria mais sossego (boa parte de seu tempo livre, provavelmente, ficaria ocupado com essa tarefa se ele deixasse de exigir dinheiro em troca da carona). O Mestre Tzen preza a individualidade e o anonimato que se conquista nos grandes centros urbanos (com economia estruturada, com São Paulo) e acha que a vida em comunidade não é uma vantagem quando ela implica em abrir mão de conquistas pessoais, como o tempo livre e a liberdade de locomoção.
Eu compreendo o ponto de vista dele, mas insisto num senso comunitário que independe da civilidade.
Aliás, para mim, o senso de comunidade, de igualdade, antecede a civilidade e abre caminho para ela, apesar das profundas diferenças culturais e econômicas entre os vários núcleos que compõem a comunidade global da qual fazemos parte: mesmo que uns de nós sejamos mais afeitos à noção de respeito pela individualidade de outra pessoa e que outros sejam menos susceptíveis a isso, todos nos sensibilizamos com a dor do outro, porque, sendo o outro humano, nos identificamos com ele e, provavelmente, nos disporemos a ajudá-lo com o que estiver ao nosso alcance.
Assim, acredito que o motoqueiro rural seria perfeitamente capaz de levar até a rodovia um vizinho seu que, em caso de necessidade, não tivesse outro meio de chegar até lá, sem cobrar por isso.
O senso comunitário é intrínseco ao ser humano e o fundamento para que se possa agir com civilidade. O senso comunitário, somado à civilidade, é que propicia o exercício da liberdade individual.
Entendo que fatores externos (como a falta de segurança ou de alimentos) possam interferir na capacidade das pessoas de se respeitarem, acredito que o fato de um grupo humano agir sem civilidade num dado momento não significa que esse mesmo grupo não possa agir com respeito no momento seguinte.
Assim, num ambiente como o do Haiti pós-terremoto, quando a ajuda humanitária está sendo providenciada pela comunidade global, mas ainda com pouca efetividade, dados os problemas iniciais de coordenação dessas atividades (de que ouvimos falar), o agir com civilidade pode ser incompatível com o instinto de sobrevivência dos indivíduos, pois esperar passivamente por uma ração de comida vai se tornando mais e mais inviável e pode significar a diferença entre a vida e a morte. Espero que, em breve, essa realidade possa mudar e que o povo haitiano construa sua paz.
Para os demais, que têm casa e comida, não há justificativa para a falta de respeito, de civilidade.
No caso brasileiro, espero que nossos políticos que se comoveram com a situação do Haiti, especialmente os que só agora tomaram conhecimento da história política e econômica do daquele país antes do terremoto (agora mais em escancarada que nunca), ajam para eliminar a miséria e a insegurança que, por aqui, nos igualam àquele país.
Tzen Master thinks that my idea of a global community is far too utopian, because, for him, there are different stages of awareness and mutual respect, not only between different human groups, but also within them and therefore not all the people would share an atavistic notion of equality and mutual respect.
He mentions, as an example, what he witnessed in the rural area of Minas Gerais (Brazil): a rural worker was the first one in hi neighborhood to buy a motorcycle. Every time a neighbor asks hum for a ride to the highway (so that he can catch a bus from there), this rural biker charge for the travel. But he does not charge for being greedy, but rather because if he does not charge his neighbors would be ask him every time to ride them up to the road and he would, probably, be busy with that task all day long. Tzen Master cherishes the individuality and anonymity achievement in large urban centers (specially those with structured economy, like Sao Paulo city) and he believes that life in community is not an advantage when it involves giving up from personal achievements, such as free time and freedom of movement.
I understand his point of view, but I insist on a sense of community that is independent from civility.
In fact, I think that the sense of community, equality, opens the way for civility, despite the profound cultural and economic differences between the various group of people that art part of the global community: even though some of us are more accustomed to the notion of respect for the individuality of another person than others, we are all thouched by the pain of others, because of our human being's identity, and we will probably be willing to help him with anything within our reach.
Therefore I believe that the rural biker would be perfectly able to take up to the highway a neighbor in case of necessity, whithout charging for it.
The sense of community is intrinsic to human beings and is also the foundation to a civility act. The sense of community, coupled with civility, is what conduces to individual freedom.
I understand that external factors (as a lack of safety or food) may interfere with the ability of people to respect others, but acting without civility at a given moment does not means that is not possible to act with respect at the next moment.
Thus, in an environment such as Haiti's post-earthquake, when humanitarian aid is being provided by the global community, but still poorly, given the initial problems of coordination of activities (so we've heard), acting with civility may be incompatible with the survival instincts of individuals, as passively waiting for a ration of food is becoming less feasible and can mean the difference between life and death. I hope that soon, this situation changes and that the Haitian people build their peace.
For others, that have food and shelter, there is no justification for the lack of respect, of civility.
In our Brazilian reality, I hope that our politicians who were touched by the situation in Haiti, especially those who just learned of the political and economic history of that country before the earthquake (now in evidence), acts to eliminate the poverty and insecurity that, here, are not so diferent from those they had.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Quem sou eu
Umas coisas mal ditas, outras coisas bem ditas
- econolítica
- English
- Vidinha
- Mestre Tzen
- PCA
- São Paulo fora de São Paulo
- cana-de-álcool
- hipocondria
- Queimada de cana-de-açúcar
- Filme
- brasiliotices
- Criancices
- Argentina
- gastronomia
- literatura
- Dengue
- Ituverava
- alcohol-cane
- Educação
- Peru
- Ribeirão Preto
- igreja
- Uruguai
- Musicas
- TED
- Mapas
- Seleções-1974
- Minas Gerais
- Bolívia
- Brumadinho
- Inhotim
- MG
- Sacramento-MG