Carcaça de avião - Lima 2010
Não sei se foi culpa dos dez anos que dividem a minha primeira visita ao Peru, quando estive em Cuzco, desta última, em que conheci Lima, não sei se pela ausência do impacto visual causado pelo choque entre a cultura hispânica – como representação da cultura ibérica que me é tão familiar –, e a cultura inca – tão estranha quanto rica –, mas o fato é que somente agora, em Lima, compreendi que os espanhóis não haviam sido mais invasores que os povos (wari, incas etc) que os antecederam em conquistas territoriais na América Latina; se houve alguma diferença entre estes e aqueles, foi apenas o fato dos espanhóis terem sido os últimos.
Lima mescla, com seus modernos edifícios ocidentais, símbolos pré-hispanicos, agora usados como símbolos de empresas, como decoração de ambientes, como estampas de roupas. Pacha Mama foi transformada em ícone capitalista sim, aparentemente, sem constrangimentos.
Lá, com exceção da ruína arqueológica HUACA PUCLLANA, nada parece antigo de verdade, mas sim meticulosamente forjado, se não em homenagem ao passado, em sedução ao presente.
Lima exibe, em todo lado, seu nobel em literatura, VARGAS LLOSA, cujo olhar estampa cartazes espalhados pela cidade.
À primeira vista, o Peru representado por Lima parece democrático e progressista; só que uma mirada mais próxima das ruas limenhas revela o que parece ser uma paz sintética, estabelecida não pelo respeito ao debate e à diversidade, mas imposta pela força de seus policiais fortemente armados, da sua tropa de choque guardando o centro histórico, da sua polícia montada.
A ostensiva demonstração de força do Estado, antes de transmitir segurança, evoca memórias dos dias de violência vividos no Peru assolado por grupos guerrilheiros, ou dos dias em que a corrupção retirou do povo peruano a dignidade e a esperança. Nisso, Lima espelha a realidade dos brasileiros, que agora se acostumam à idéia da polícia de pacificação nos morros cariocas.
Neste ano de 2011, todas as faces do Peru entrarão em confronto, pois as correntes progressistas e liberais – que surgem em Lima nas ruas limpas e bem cuidadas, nos excelentes restaurantes, no comércio variado, nos esplendidos jardins em que brincam crianças – enfrentarão, nas eleições presidenciais, aquelas retrógradas e anti-democráticas – representadas pela força com que o Estado parece manter um frágil equilíbrio de segurança.
Espero que o próximo presidente peruano honre seu povo amistoso e progressista e que estenda para todo o país as maravilhas que vi de barranco ao centro histórico.
I do not know if it is the fault of the ten years that divide my first visit to Peru - when I was in Cuzco -, from this recent one, in which I went to Lima; I do not know if it is due to the lack of the visual impact caused by the clash between the Hispanic culture - as a representation of culture Iberian that is so familiar to me - and the Inca culture - as strange as rich -, but the fact is that only in Lima I understood that the Spanish were not more invaders than other people (wari, Incas, etc.) that preceded them in territorial conquests in Latin America, and if there is any difference between these and those, is just the fact that the Spaniards were the last ones to do it.
Lima mix with its modern buildings pre-Hispanic symbols, that are now used as symbols for decoration and clothing. Pacha Mama was transformed into a capitalist icon, apparently, without constraints.
In Lima city, with the exception of the Huaca Pucllana, an archaeological ruin, nothing seems to be really old but meticulously wrought, if not in tribute to the past, to seduce present.
Lima displays everywhere its Literature Nobel, Vargas Llosa, whose gaze adorns billboards across the city.
At a first glance, it seems that Peru represented by Lima is democratic and progressive, but a closer glance reveals that the streets of Lima are at a synthetic peace, not established by the debate and respect for diversity, but imposed by its strongly armed police officers, from its shock troops guarding the historic center, its mounted police.
That blatant show of power from State, before providing security evokes memories of the days of violence experienced in Peru hit by guerrilla groups, or the days when the corruption took the Peruvian people dignity and hope. Herein, Lima reflects the reality of Brazilian people, who now are getting used to the idea of peacekeeping police in the hills of Rio de Janeiro.
In 2011, the Peruvian faces will come into confrontation because the progressive and liberal one - that arise in Lima on the clean and well kept streets, in its excellent restaurants, its varied commerce and its splendid gardens where children play - will face, at the presidential election, those backward and anti-democratic ones - represented by the strength with which the State seems to maintain a fragile balance of security.
So I hope that the next Peruvian president honor its friendly and progressive people and that extends to the whole country the wonders I’ve seen from Barranco district to the historic center.
Barranco - Lima 2010
Palácio da Justiça - Lima 2010
Mural- Lima 2010
Mural- Lima 2010