Uma força incompreensível para nós levou-nos ao
Museu Inhotim, em Brumadinho, MG: se foi pelas noticias online dos escritores
de viagem ou pelos relatos dos amigos mineiros que de lá voltaram maravilhados ou se foi pela oportunidade criada pelo ócio das
férias e nosso pretenso gosto por aventuras, nunca saberemos; mas o fato é que baixamos lá. E olha que, baixar
em Inhotim, de Ribeirão Preto, não é das tarefas
mais fáceis porque o trajeto de menor esforço passa por um voo de uma hora e
meia chacoalhando em um avião pequeno direto pra Belo Horizonte (ou dois voos
de 45 minutos, com escala em Viracopos, Campinas) e, dali para Brumadinho, por caminhos
que cortam a congestionada capital mineira para alcançar a estrada estreita e movimentada
que a liga a Brumadinho e, no fim, pela travessia desta cidadezinha, cujas
ruas estreitas e mal sinalizadas chegam a ficar tão entupidas de carros quanto
BH.
De qualquer
maneira, chegar ao estacionamento do Inhotim já surpreende: amplo, sem sombras, acomoda seu carro alugado e as vans
com velhinhos de bengalas e, aparentemente, os veículos de todos os outros que,
como você, esperam encontrar a arte e os jardins tão divulgados.
Do
estacionamento à bilheteria, caminha-se
um bocado – mas nada que se compare ao que se caminha lá dentro, entre um pavilhão
e outro. Legal. O caminho é muito bonito e
agradável, sob as árvores, e os velhinhos
de bengala foram acomodados num carrinho de golfe cuidadosamente dirigido por funcionários
do parque.
A beleza do lugar
é indiscutível e a preferência pelos trabalhos
artísticos – e mesmo a compreensão da sua qualidade –
também é indiscutível, dada a impossibilidade de consenso
intrínseca a tal análise. Então não é isso que, em Inhotim, impressiona petistas, tucanos e os democratas.
Inhotim
conquista porque não parece brasileiro: seus campos enormes não ostentam
saquinhos de plástico ou outro tipo de lixo, seus banheiros, concorridos, estão
sempre estranhamente limpos e, aqui e ali há bebedouros que oferecem água geladinha e grátis para os visitantes, os funcionários são bem
treinados e educados e, diante disso tudo, os visitantes falam baixo dentro dos
pavilhões, em respeito à arte difícil de
aceitar que está diante de seus olhinhos
confusos.
Inhotim vale
a viagem porque é uma luneta para o brasil dos nossos sonhos: seguro, eficiente,
limpo e amigável.
Inhotim é
nossa Miami democrática porque é “pertim”, bão procê e pra mim.