Cuzco: visão panorâmica - ano 2000
Saímos de Puno em direção a Cuzco!
Viajamos à noite e, embora os assentos do ônibus não fossem muito desconfortáveis, quase não conseguimos dormir porque uns garotos falavam alto o tempo todo, comentando as coisas mal assombradas que iam observando da janela do veículo: uma vaca de duas cabeças, uma mulher que flutuava logo acima do solo... Vez ou outra, tínhamos de abrir os olhos e conferir se a miragem que descreviam não seria mesmo real, tal era a convicção dos moleques ao descrevê-la.
Quando finalmente o ônibus chegou a nosso destino, nós da pequena expedição brasileira daquele ano 2000, tivemos uma grande surpresa ao avistar Cuzco/Cusco, que acreditávamos que seria apenas um trampolim para nossa visita a Machu Picchu. A cidade era linda!
De cara, percebemos que a capital do império Inca exigia um olhar mais demorado e, então, sem poder resistir ao charme cusquenho, fomos unânimes ao decidir explorar a cidade até a última pedra o que, obviamente, nos obrigaria a permanecer ali por mais dias do que havíamos previsto inicialmente.
Assim, nos instalamos num hotel mal-assombrado que fica num antigo convento, perto da Plaza de Armas (central) e dali partiríamos para explorar museus e sítios arqueológicos como Korikancha ou Templo do Sol (na cidade mesmo); Tambomachay, Pukapukara, Q`enqo e Saqsaywaman.
Desde o primeiro dia, descobrimos, numa simples caminhada por Cuzco, uma cidade linda e melancólica, com construções espanholas erguidas sobre as pedras das antigas construções incas estendendo-se pelas inúmeras vielas que partem da praça central. A batalha cultural travada séculos antes estava escancarada na estranha arquitetura composta por casas de paredes de tijolos pintados de branco que brotavam palidamente dos poderosos blocos de pedra cinza.
Nas suas noites douradas, a cidade vibrante não deixava a peteca cair e distraia nossa mente com restaurantes e um movimento bucólico na praça central.
Por todo lado, dia e noite, garotos com caixa de engraxar sapato ofereciam seus serviços: “shoe shine? Shoe shine?”. Esses incansáveis lustradores de sapatos nos abordavam, repetidamente, apesar de todos usarmos tênis.
Nos dias seguintes, passamos a visitar, de táxi, as ruínas que ficavam próximas da cidade, e, chegando lá, sempre contratávamos um guia que ia nos explicando o que significava cada coisa, cada pedra ou construção, com histórias incríveis. Havia uma ou duas teorias plausíveis para a existência e o significado de tudo o que víamos nos sítios arqueológicos, mas, pelo que me lembro das conversas, nada era comprovado, já que a cultura dos criadores daquilo tudo havia sido eliminada.
Bom, pelo menos a culinária andina resistia à globalização e pudemos experimentar bife de alpaca, cui, maiz (havia milho de toda cor e tamanho), papa (batata) em excelentes restaurantes, como o Pachapapa.
Foi em Cuzco que convencemos nossa querida amiga chinesa a topar um experimento que seria coletivo: experimentar um cui (tipo de porquinho-da-índia), que dividiríamos, para que todos os cinco pudessem provar, mas sem nos comprometermos com o prato. Lembra que essa garota era a única de nós que não passara mal durante a viagem, porque o único prato que comia até então era pasta-ao-sugo?
Pois é. Ela sentiu confiança nos restaurantes de Cuzco (já que todos tinham geladeira) e decidiu, corajosamente, abandonar seu prato único.
Quando o tal do cui ficou pronto e o garçom o colocou sobre nossa mesa, vimos aquele bichinho assado inteiro, com jeito de animal doméstico... resultado: ninguém mais teve coragem de comê-lo, a não ser nossa intrépida amiga chinesa que foi até o fim com a empreitada!
E, é bom dizer, continuou sendo a única entre nós que não passou mal um único dia sequer durante a viagem.
Hotel em Cuzco: ano 2000
Plaza de Armas, Cuzco - ano 2000
Plaza de Armas, Cuzco - ano 2000
Arquitetura cusquenha- ano 2000
Caveirão peruano - Cuzco, ano 2000
Puca Pucara: sítio arqueológico perto de Cuzco - ano 2000
Sacsayhuaman: Cuzco, ano 2000
Sacsayhuaman: Peru, ano 2000
We left Puno to Cuzco!
We traveled at night, and though the seats of the bus were not too uncomfortable, we could hardly sleep because some kids kept talking loudly all the time about scary things that they were watching from the window of the vehicle: a cow with two heads, a woman who floated just above the ground ...
Now and then, we had to open our eyes to see if the mirage described by the children was real, such was the conviction of the kids when describing it.
When the bus finally arrived at our destination, we, at our 2000 year little expedition, had a big surprise at the sight of Cuzco / Cusco, which we believed would just be a springboard for our visit to Machu Picchu. The city was beautiful!
Facing it, we’ve realized that the capital of the Inca empire would required more time of visit and then, unable to resist the charm Cuzco artist, we were unanimous in deciding to explore the city until the last stone which, of course, would force us to stay there longer than we had originally planned.
So, we settled on a haunted hotel that sits in a former convent near the Plaza de Armas (central) and from there we could explore museums and archaeological sites as Coricancha or Temple of the Sun (in the city itself); Tambomachay, Pukapukara, Q `enqo and Saqsaywaman .
From day one, we discovered, at a simple walk through Cuzco, a beautiful city but also gloomy, with buildings erected by the Spanish over stones of ancient Inca constructions all over it. The cultural battle fought centuries before was gaping at Cuzco’s strange architecture made of houses of white brick walls that sprouted up very pale from the powerful inca gray stone blocks.
In its golden evenings, the vibrant city would entertained us with restaurants and the bucolic central square.
Everywhere, day and night, kids with shoe-shine box offered their services: "shoe shine? Shoe shine? ". These tireless kids approached us, repeatedly, in spite of our tennis.
In the following days, we come to visit by taxi to the ruins that lay close to the city, and once there, we used to hire a guide that explained what meant every thing, each rock or construction, telling us incredible stories. There were one or two plausible theories for the existence and significance of what we saw in the archaeological sites, but, as I recall, almost nothing was proven, because the culture that created it all had been eliminated.
Well, at least the Andean cuisine resisted globalization and we could experienced alpaca steak, cui, maiz (corns of many colors and sizes), papa (potato), in excellent restaurants like Pachapapa.
In Cuzco we finally was convinced our dear Chinese friend to join the other at an collective experiment: we would order a cui (type of guinea pig), sharing it in five, so all of us would be able o taste it without committing ourselves to the dish.
Do you remember that this girl was the only one of our expedition who did not get sick during the trip, because the only dish that she had so far was pasta?
Yeah. But at Cuzco she felt confident enough (as every restaurant had a refrigerator) to abandon her unique dish.
So, when the waiter carefully put the cui dish on our table, we saw that little roasted... Result: no one else had the courage to eat it but our intrepid chinese friend! And, for the records, she remained being the only one among us who has not gone sick not even a single day during the trip.
... to be continued on next friday... MERRY CHRISTMAS!
...continua na próxima sexta-feira...FELIZ NATAL!